quinta-feira, 28 de julho de 2011

Motociclistas são 24% das vítimas no trânsito

Parceria viabiliza capacitação complementar para motociclistas
Detran/RS, EPTC e Sindimoto assinaram, nesta quarta-feira (27), Dia do Motoclista, termo de cooperação para oferecer capacitação complementar aos motociclistas gaúchos. A parceria que viabilizou o Curso de Pilotagem Consciente sobre Duas Rodas foi formalizada em cerimônia no Salão Nobre do Paço dos Açorianos, Prefeitura de Porto Alegre. Na ocasião, também foi assinado decreto regulamentando a profissão de motofrete no município.
Os cursos serão gratuitos e abertos a todos aos motociclistas interessados (profissionais ou não). Inicialmente estão previstas 24 edições, com 25 alunos cada, sendo a primeira turma prevista para setembro. A carga horária teórica é de 5h/aula e a prática de 10h/aula. O objetivo principal é aperfeiçoar as habilidades para condução da moto, exercitando a pilotagem em curvas, frenagens e outras situações de trânsito. O módulo teórico aborda ainda questões como características da moto, inspeção preventiva e seguro DPVAT.
O Sindimoto ministrará o curso, sob a supervisão do Detran/RS, que também produzirá o material didático, e EPTC, responsável pela cedência e sinalização do local para a prática de pilotagem. “Esse é o primeiro curso desse tipo realizado no Brasil. Mais uma vez, Porto Alegre dá o exemplo para o resto do País. Também na regulamentação da profissão somos pioneiros entre as capitais”, anunciou Valter Ferreira, Presidente do Sindimoto, durante a assinatura do Termo.
Vanderlei Capelari, Diretor da EPTC, e o Prefeito José Fortunati frisaram a importância das parcerias para reverter os altos índices de acidentalidade. “Precisamos agir em conjunto e de forma decidida para proporcionar o que a população precisa e exige de nós”, disse o Prefeito.
“Apesar da redução já verificada nos acidentes este ano, o número de vítimas ainda é muito alto. E os motociclistas, pela sua maior vulnerabilidade, são grande parte dos mortos, feridos e incapacitados. Esse curso de qualificação é mais uma ação, desenvolvida com nossos parceiros, para tentar reduzir essas estatísticas.”
Motociclistas são 24% das vítimas no trânsito
Embora o Estado tenha registrado uma redução nas mortes de motociclistas, os números ainda são preocupantes: 148 motociclistas morreram no trânsito nos primeiros cinco meses de 2011. O número é menor do que no mesmo período do ano passado, quando 159 motociclistas perderam a vida em acidentes, mas eles representam 24% do total de vítimas fatais.
Essa estatística é ainda mais representativa, considerando que as motocicletas são 20% da frota do Estado, que é de 4,8 milhões veículos.
A frota de motocicletas cresce mais que a média. De 2004 para cá, o crescimento médio dessa frota foi de 11%, contra 5,4% dos automóveis. Em 2004, eram 498,6 mil motocicletas circulando no Estado. Hoje já são 956 mil. Conduzindo essas motos estão 1,4 milhão de habilitados na categoria A (e combinações).  Em 2004, esse contingente era de 955 mil, um crescimento de 51% no período.
Cerca de 370 mil condutores habilitados na categoria A e combinações (26% do total de habilitados na categoria A) exercem atividade remunerada.  Embora neste caso - combinação de categorias - não se possa dizer com que veículo o condutor trabalha. No entanto, é possível dizer que pelo menos 10 mil trabalhem exclusivamente com a moto.
Publicada em 27/07/2011, às 17h39min
Anexos

quarta-feira, 27 de julho de 2011

27 de Julho - Dia do Motociclista


Prefeitura regulamenta serviço de motofrete na Capital

27/07/2011 17:03:22

Foto: Ivo Gonçalves/PMPA
Fortunati ressaltou que Porto Alegre é 1ª capital a regulamentar a atividade
Fortunati ressaltou que Porto Alegre é 1ª capital a regulamentar a atividade
Para profissionalizar a atividade e tornar o trânsito mais seguro, o prefeito José Fortunati assinou, nesta quarta-feira, 27, o decreto que regulamenta a atividade de motofrete em Porto Alegre. Também foi formalizado o Termo de Cooperação de apoio mútuo entre a EPTC, Detran/RS e Sindimoto, que visa à realização de curso de pilotagem consciente sobre duas rodas. (fotos) (vídeo)

Com a regulamentação do motofrete, o serviço remunerado de transporte de mercadorias com entrega e coleta mediante utilização de motocicletas somente poderá ser realizado mediante a concessão de alvará municipal, concedido pela Secretaria da Produção, Indústria e Comércio (Smic). Para exercer a atividade de motofrete, o veículo deverá ser registrado na categoria aluguel e possuir equipamentos obrigatórios de segurança, além de ter, no máximo, sete anos de fabricação.

“Porto Alegre é a primeira capital do país que regula a atividade do motofrete. Essa medida vai qualificar o serviço e contribuir para um trânsito mais seguro”, ressaltou Fortunati. De acordo com o prefeito, com a regulamentação será possível identificar os profissionais que realizam tele-entrega e, assim, monitorar o serviço prestado e promover ações específicas para a categoria.

Para Valter Ferreira, presidente do Sindimoto, a categoria ganha reconhecimento com a regulamentação do motofrete e realização de cursos de pilotagem. “Saímos do ostracismo para sermos reconhecidos como profissionais, prestadores de serviço. É uma grande conquista na data em que comemoramos o Dia do Motociclista”.

O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, afirmou que o próximo passo será a realização de um curso para motociclista, o que contribuirá para reduzir os acidentes envolvendo motocicletas -  três mil casos já foram registrados desde o início do ano.

O evento também contou com a presença do secretario adjunto da Produção, Indústria e Comércio (Smic), Omar Ferri Júnior, do presidente do Detran/RS, Alessandro Barcelos, entre outras autoridades.

Requisitos para a concessão de alvará para serviço de motofrete
Pessoa Jurídica – dispor sede no município; alvará de localização e funcionamento; registro na Junta Comercial do Estado do RS; cópia autenticada do contrato de pessoa jurídica; certificado geral junto ao Ministério da Fazenda (CNPJ); comprovante de endereço emitido há, no máximo, sessenta dias; certidões negativas de débitos municipais, estaduais e federais; certidões de regularidade do INSS e FGTS; relação dos veículos que serão utilizados na prestação do serviço, com devido CRLV para comprovação da propriedade e ano de fabricação, e contrato de comodato, aluguel ou arrendamento, se for o caso; cadastro dos condutores que realizarão o serviço junto à respectiva pessoa jurídica; comprovante de contribuição sindical.

Pessoa Física – cadastro do condutor; certidões negativas de débitos municipais, estaduais e federais; certidão de regularidade do INSS; cópia do CRLV do veículo, que será utilizado na prestação do serviço, para comprovação da propriedade e ano de fabricação, e contrato de comodato, aluguel ou arrendamento, se for o caso; comprovante de contribuição sindical.

Fonte: EPTC

segunda-feira, 25 de julho de 2011

DROGAS NO TRANSITO

Aproveitando o assunto que está tomando conta de todo o noticiário, gostaria de postar uma pesquisa publicada pela Revista de psiquiatria clinica, onde os autores descrevem o efeito de cada substancia que, compromete a dirigibilidade do usuário. 
Neste estudo, criticam com total propriedade, a atual legislação de trânsito que no artigo 165 fala em: “dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”. 
Já no artigo 306 do CTB, que trata dos crimes de trânsito, descreve: “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”
Se observarmos, tanto o 165, quanto o 306, mencionam de maneira vaga o assunto, sem detalhar:
* Quais substancias, já que as chamadas drogas legais, como os medicamentos, também podem causar dependência física ou psíquica?
* Determinando isto, qual a quantidade permitida, se houver?
* De que forma o agente de trânsito realizará testes no condutor? 
Está na hora de começarmos a olhar de frente este problema. Se fala muito do álcool e direção, mas é bem provável que as drogas estão em uma proporção igual ou superior a substancia etílica.
Mais embaixo, vídeo produzido com muito bom humor na Alemanha.


Até a próxima!



Drogas ilícitas e trânsito: problema pouco discutido no Brasil
Illegal drugs and the traffic: a problem rarely discussed in Brazil
Julio de Carvalho Ponce1, Vilma Leyton2
1 Bacharel em Ciências Moleculares e pós-graduando do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
2 Professora doutora do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Recebido: 26/09/2007 – Aceito: 20/02/2008
Endereço para correspondência: Julio de Carvalho Ponce.
Rua Teodoro Sampaio, 115 – 05405-000 – São Paulo, SP. E-mail: juliocp@gmail.com
Resumo
Contexto: Dirigir é uma tarefa complexa na qual o condutor recebe informação continuamente, analisa-a e reage a respeito desta. Substâncias que influem nas funções cerebrais ou em processos mentais envolvidos na condução certamente irão afetar o desempenho do condutor. Alterações motoras provocadas por drogas ilícitas têm recebido crescente atenção em anos recentes como uma possível ameaça à segurança no trânsito. Pesquisas têm indicado a presença de drogas psicoativas em motoristas mortos ou feridos em acidentes de trânsito, e estudos experimentais mostram prejuízo na performance de indivíduos sob efeito de drogas. Objetivos: Em razão de esse problema ser pouco discutido em nosso país, embora seja preocupante, este trabalho visa fornecer dados sobre o problema do uso de drogas por motoristas, a legislação brasileira vigente sobre drogas e direção veicular e quais são as medidas que podem ser adotadas para que os acidentes de trânsito relacionados ao uso de drogas sejam reduzidos.Métodos: Revisão bibliográfica de trabalhos publicados nos últimos quinze anos. Resultados: Os trabalhos mais relevantes apontaram claros indícios de prejuízo na capacidade de dirigir sob efeito de drogas psicotrópicas. Conclusões: Todas as drogas psicotrópicas causam prejuízos nas funções psicomotoras e riscos aumentados de envolvimento em acidentes de trânsito, sendo necessária uma legislação específica que aborde esse tema.
Ponce, J.C.; Leyton, V. / Rev. Psiq. Clín 35, supl 1; 65-69, 2008
Palavras-chave: Trânsito, drogas, direção.
Abstract
Background: Driving is a complex task in which the driver receives, analyzes and reacts to information continuously. Substances that influence brain functions and/or mental processes involved in driving will certainly affect the driver’s performance. Psychomotor alterations caused by illegal drugs have received growing attention in recent years as a possible threat to roadway safety. Research has shown the presence of psychoactive drugs in drivers who were killed or injured in driving accidents, and experimental studies have shown impairment in the performance of individuals under the influence of drugs. Objectives: This study aims to present data on the problem of drug abuse by drivers, the current Brazilian legislation on driving and drug abuse, and what possible measures might be adopted in order to reduce drug-related driving accidents. Methods: The method applied was a literature review of the last fifteen years of publications. Results: The most relevant publications indicate clear evidence of impairment in driving skills under the influence of psychotropic drugs. Conclusions: All psychotropic drugs cause impairment in psychomotor functions and as such, a higher risk of involvement in driving accidents, which makes specific legislation dealing with this issue necessary.
Ponce, J.C.; Leyton, V. / Rev. Psiq. Clín 35, supl 1; 65-69, 2008
Key-words: Traffic, drugs, driving.
Introdução
Dirigir é uma tarefa complexa na qual o condutor recebe informação continuamente, analisa-a e reage a respeito desta. Substâncias que têm uma influência em funções cerebrais ou em processos mentais envolvidos na condução certamente irão afetar seu desempenho. Vários países têm se preocupado com esse assunto e possuem leis severas para punir motoristas que dirigem sob o efeito de drogas. Tentativas de controlar o uso de drogas no trânsito, no entanto, estão sujeitas a lacunas no conhecimento sobre drogas e uma gama de dificuldades práticas e, muitas vezes, influenciadas por interesses políticos. Ações conjuntas de educação e fiscalização ostensiva são fundamentais para se obter melhoria na segurança de trânsito. Os efeitos das drogas no desempenho dos motoristas já são bem conhecidos e vários são os estudos que podem ser encontrados na literatura sobre a prevalência do uso de drogas por motoristas que foram mortos ou feridos em ocorrências de trânsito (World Health Organization, 2004). Estudos experimentais que indicam o prejuízo no desempenho de motoristas sob efeito de drogas têm sido desenvolvidos por alguns pesquisadores. O aumento da prevalência de drogas, além do álcool, tem sido relatado por diversos autores (Seymour e Oliver, 1999; Schwilke et al., 2006; Drummer et al., 2004). Estudos e discussões dos riscos de dirigir sob efeito de drogas têm sido alvo de recentes estudos de revisão (Kelly et al., 2004). O problema da condução veicular sob o efeito de drogas lícitas e ilícitas tem despertado muito interesse na comunidade científica, com inúmeros trabalhos publicados. Sabe-se que drogas lícitas (como o álcool), medicinais (como os tranqüilizantes e antidepressivos) e ilícitas (como cocaína, maconha e mais recentemente o ecstasy) têm expressiva participação na ocorrência de acidentes, não raro com vítimas fatais (Drummer et al., 2003).
No Brasil, a mortalidade por causas externas consti­tui-se na segunda causa de mortalidade geral e na primeira causa de morte entre pessoas de 1 a 39 anos, atingindo surpreendentes 71,3% das mortes para as pessoas entre 20 e 29 anos. Os acidentes de trânsito são a nona causa principal de morte no Brasil, sendo a segunda entre as causas externas (homicídios em primeiro lugar). É também a primeira causa geral dos 5 aos 14 anos e a segunda dos 15 aos 29 anos. Somente em 2004, os acidentes de trânsito foram responsáveis pela perda de 35.674 vidas (Ministério da Saúde, 2007). Já é de consenso que o uso de álcool está relacionado com os acidentes de trânsito e que esse fato é discutido extensamente e divulgado com freqüência pela mídia nacional. Entretanto, a participação das drogas nos acidentes é pouco conhecida e divulgada no Brasil. Há, portanto, necessidade urgente de que pesquisas sobre a prevalência dessas substâncias no trânsito brasileiro sejam realizadas, para que seja conhecido o problema e medidas tanto educativas quanto repressivas sejam tomadas.
Objetivo
Fornecer informações sobre as drogas ilícitas (cocaína, maconha, derivados anfetamínicos) e a implicação do seu uso por motoristas de veículos automotores.
Discussão
Efeitos das drogas na direção
Cannabis
A cannabis, entre nós conhecida por maconha, é a droga ilícita mais comumente utilizada por motoristas em todo o mundo. Essa droga influencia percepções, a performance psicomotora e cognitiva e as funções afetivas. Dessa forma, são afetados, no motorista, a coordenação, a vigilância e o estado de alerta e, conseqüentemente, a capacidade de dirigir. Os efeitos debilitantes se concentram nas primeiras duas horas, mas podem durar por mais de cinco horas. Testes experimentais feitos com concentrações de até 300 mcg tetra-hidrocanabinol/kg promovem efeitos semelhantes à dose de mais de 0,5 g/L de etanol (Ramaekers et al., 2004). Motoristas parecem compensar seus comportamentos na direção, mas problemas podem surgir em situações de emergência (Transportation Research Board, 2006).
Fergusson e Horwood (2001) relatam que há um risco 1,6 vez maior de provocar acidentes para aqueles que consomem maconha mais de 50 vezes ao ano. O’Kane et al. (2002) relatam que estudos recentes indicam um risco 6,4 vezes maior para condutores que fizeram uso de cannabis.
Drummer et al. (2004) determinaram que condutores que apresentavam resultados positivos para drogas psicotrópicas eram significantemente mais prováveis de serem culpados por colisões do que aqueles que não tinham utilizado drogas (OR = 1,7). Condutores que apresentaram ?9- tetra-hidrocanabinol (THC) no seu sangue tinham chance 2,7 vezes maior de ser responsáveis por um acidente que indivíduos que não consumiram a droga; chance que sobe para 6,6 vezes quando a dose é alta (maior ou igual a 5 ng/mL de sangue).
Como os produtos de biotransformação da cannabis podem aparecer na urina até vários dias após cessar o uso, não é possível dizer se o motorista está sob efeito da droga. Entretanto, se a pesquisa for feita no sangue ou saliva, pode-se dizer se o uso foi recente (Transportation Research Board, 2006).
A cannabis quando utilizada em combinação com o álcool, mesmo em níveis relativamente baixos, resulta em um risco de colisão maior do que para cada uma das substâncias separadamente (Drummer et al., 2004).
Estimulantes
A cocaína pode ocasionar uma pequena melhora na performance do motorista durante a fase de euforia, segundo estudos laboratoriais. No entanto, o indivíduo sob efeito de cocaína está mais propenso a assumir comportamentos de risco, o que pode levar a um envolvimento maior em acidentes de trânsito. O prejuízo no desempenho observado pode ser em razão da perda de concentração e atenção, e maior sensibilidade à luz, em virtude das pupilas dilatadas. Além disso, sintomas psicológicos, tais como paranóia e alucinações, podem influenciar no comportamento na direção (Transportation Research Board, 2006).
Existem estudos que mostram que o uso de derivados anfetamínicos (como o ecstasy) podem aumentar perigosamente a autoconfiança do condutor, com aumento no envolvimento em situações de risco. O usuário se torna agressivo no início e apático quando os efeitos agudos passam (Transportation Research Board, 2006). Como com a cocaína, a dilatação das pupilas pode causar sensibilidade à luz. Estudos de caso mostram que as anfetaminas têm um efeito negativo nas capacidades de dirigir. Porém, como em muitos casos de psicoestimulação, não são os efeitos agudos da droga, mas o efeito após a estimulação, de fadiga, que causam maior debilidade na condução (Transportation Research Board, 2006).
Drummer et al. (2004) encontraram que estimulantes em motoristas de caminhão também se mostraram positivamente associados à culpabilidade (OR = 8,3).
Opiáceos
Os opiáceos (principalmente heroína) induzem a sedação, indiferença a estímulos externos e aumento do tempo de reação. A ocorrência de miose (constrição das pupilas) tem um efeito negativo na acomodação a estímulos luminosos, especialmente à noite. Diminuição na performance na direção veicular é notada, mesmo durante a síndrome de abstinência, que é associada com perda de concentração (Transportation Research Board, 2006).
Alucinógenos
Os alucinógenos (GHB, LSD etc.) debilitam a performance psicomotora por produzirem alucinações, sonolências e reações psicóticas, incompatíveis com a direção segura (Transportation Research Board, 2006).
Prevalência do uso de drogas e direção
Apesar de o álcool ser a substância psicoativa mais encontrada em vítimas fatais de acidentes de trânsito, outras drogas, lícitas ou ilícitas como a maconha, derivados anfetamínicos, opiáceos e benzodiazepínicos, também têm sido freqüentemente detectadas (Holmgren et al., 2005).
São vários os estudos que demonstram a relação do uso de álcool associado ou não a drogas lícitas (medicamentos) ou ilícitas. A tabela 1 resume estudos epidemiológicos de substâncias psicoativas em vítimas fatais.
Os estudos mostrados na tabela 1 mostram que o consumo de drogas, associado ou não ao álcool, pode estar relacionado com 40% a 70% das fatalidades no trânsito. Um estudo de revisão na União Européia determinou que de 1% a 3% dos motoristas dirigem sob efeito do álcool, mas que a proporção de intoxicados nos acidentes com vítimas fatais é muito maior (European Transport Safety Council, 1995).
Um dos poucos estudos feitos no Brasil com motoristas de caminhão encontrou uma prevalência de 7,0% de uso de drogas por análise de urina (indicando uso recente, mas não necessariamente sob efeito) e 3,0% nas análises de sangue, indicativo de estar sob efeito de drogas. A substância mais comumente encontrada foi etanol, seguida de anfetaminas, muito utilizadas para se manter a vigília (Yonamine, 2004).
Fiscalização e legislação
As legislações acerca de álcool e drogas variam muito entre países. Alguns deles requerem que a acusação (geralmente o Estado) prove que o condutor estava com alterações psicomotoras, ou seja, deve-se provar que a concentração da droga encontrada era suficiente para causar prejuízos na condução. Por essa ser uma tarefa um tanto complicada, alguns estados adotaram as leis per se, ou seja, qualquer concentração encontrada, acima do limite permitido (que geralmente é expresso apenas para o álcool; para drogas, o limite é o de detecção do método utilizado para análise), é pressuposta como sendo causadora de redução na capacidade de dirigir (APIS, 2007).
Para drogas, temos legislações que pedem a confirmação da debilitação, como a britânica e as de alguns estados americanos (Reino Unido, 1988; APIS, 2007).
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997 e alterado pela Lei 11.725/06, no seu artigo 165, estabelece que o motorista que “dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica” comete uma infração gravíssima, tem multa e suspensão do direito de dirigir como penalidade. Seu veículo é retido até a apresentação de condutor habilitado e seu documento é recolhido. Além disso, é considerado crime de trânsito o motorista que “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”, conforme dita o artigo 306 do CTB. Nesse caso, o condutor pode ter detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (BRASIL, 1997; BRASIL, 2006).
Entretanto, para o cumprimento da lei, é necessário que a ela seja regulamentada, de forma a serem definidos claramente quais os grupos de drogas que são proibidos no trânsito brasileiro, pois, nos artigos citados nos parágrafos anteriores, são mencionadas “qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica” e “substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos”, respectivamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Departamento de Transportes estabelece que seja verificado o uso dos seguintes grupos de substâncias: metabólitos da maconha, cocaína e opiáceos, anfetaminas e fenciclidina para condutores profissionais. Sugerimos que, além do álcool, seja proibido o uso dos seguintes grupos de substâncias psicoa­tivas: cocaína, cannabis e anfetamínicos, substâncias essas mais comumente utilizadas em nosso meio (United States Department of Transportation, 2007).
Discussão e conclusões
Há um considerável número de evidências de que várias drogas ilícitas podem causar prejuízos psicomotores e influenciar o ato de dirigir veículo automotor. No Brasil, há necessidade de mais estudos, usando metodologias consistentes e cuidadosas, para determinar o potencial de prejuízo de diferentes drogas, bem como analisar constantemente a prevalência destas em motoristas envolvidos em acidentes, para podermos, assim, instituir medidas eficazes para reduzir o problema.
Conclusão
A alta prevalência e a gravidade da associação entre TEPT e ADAD revelam a importância da identificação do problema e do encaminhamento adequado para tratamento. A identificação precoce da comorbidade entre o transtorno e o ADAD é fundamental para o bom prognóstico do paciente, bem como o atendimento adequado às vítimas de situações traumáticas, para que sejam minimizadas as chances da ocorrência do TEPT, bem como a associação do quadro com o ADAD.
Referências
APIS - Alcohol Policy Information System. Blood Alcohol Concentration Limits: Adult Operators of Non-Commercial Motor-Vehicles. APIS, 2007. Disponível em: http://alcoholpolicy.niaaa.nih.gov/
Athanaselis, S.; Dona, A.; Papadodima, S.; Papoutsis, G.; Maravelias, C.; Koutselinis, A. - The use of alcohol and other psychoactive substances by victims of traffic accidents in Greece. For Sci Int 102(2-3): 103-109, 1999.
BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro, Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997.
BRASIL. Lei n. 11.725, de 7 de fevereiro de 2006.
Bravo, P.A.; Bravo, S.M.; Porras, B.; Valderrama, J.; Erazo, A.; Bravo, L.E. - P revalencia de sustancias psicoactivas asociadas con muertes violentas en Cali. Colomb Med 36: 146-152, 2005.
del Rio, M.C.; Alvarez, F.J. - Presence of illegal drugs in drivers involved in fatal road traffic accidents in Spain. Drug and Alcohol Dependence 57(3): 177-182, 2000.
Drummer, O.H.; Gerostamoulos, J.; Batziris, H.; Chu, M.; Caplehorn, J.R.M.; Robertson, M.D., et al. - The incidence of drugs in drivers killed in Australian road traffic crashes. For Sci Int 134(2-3): 154-162, 2003.
Drummer, O.H.; Gerostamoulos, J.; Batziris, H.; Chu, M.; Caplehorn, J.; Robertson, M.D., et al. - The involvement of drugs in drivers of motor vehicles killed in Australian road traffic crashes. Accident Analysis and Prevention 36: 239-248, 2004.
European Transport Safety Council - Reducing injuries from alcohol impairment. Brussels, European Transport Safety Council, 1995.
Fergusson, D.M. & Horwood, L.J. - Cannabis use and traffic accidents in a birth cohort of young adults. Accident Analysis and Prevention 33: 703-711, 2001.
Holmgren, P.; Holmgren, A.; Ahlner, J. - Alcohol and drugs in drivers fatally injured in traffic accidents in Sweden during the years 2000-2002. For Sci Int 151(1): 11-17, 2005.
Kelly, E.; Darke, S.; Ross J. - A review of drug use and driving: epidemiology, impairment, risk factors and risk perceptions. Drug Alcohol Rev 23(3): 319-344, 2004.
Mercer, G.W.; Jeffery, W.K. - Alcohol, drugs, and impairment in fatal traffic accidents in British Columbia. Accident Analysis & Prevention 27(3): 335-343, 1995.
Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade [SIM]-DATASUS [Online]. [Acessado em 20 agosto 2007]. Disponível em URL: http://www.datasus.gov.br
O’Kane, C.J.; Tutt, D.C.; Bauer, L.A. Cannabis and driving: A new perspective.
Emergency Medicine 14, 296-303, 2002.
Ramaekers, J.G.; Berghaus, G.; Van Laar, M.; Drummer, O.H. - Dose related risk of motor vehicle crashes after cannabis use. Drug Alcohol Dependence 73: 109-119, 2004.
Reino Unido. Road Traffic Act 1988, Chapter 52. Part I: Principal Road Safety Provisions: Motor Vehicles: drink and drugs, de 15 de novembro de 1988.
Seymour, A.; Oliver, J.S. - Role of drugs and alcohol in impaired drivers and fatally injured drivers in the Strathclyde police region of Scotland, 1995-1998. For Sci Int 103: 89-100, 1999.
Schwilke, E.W.; Santos, M.I.S.; Logan, B.K. - Changing patterns of drug and alcohol use in fatally injured drivers in Washington State. J Forensic Sci 51(5): 1191-1198, 2006.
Transportation Research Board – Drugs and Alcohol Committee - Drugs and traffic: A Symposium. Transportation Research Circular E-C096, 2006. Disponível em: http://onlinepubs.trb.org/onlinepubs/circulars/ec096.pdf
United States Department of Transportation – Federal Motor Carrier Safety Administration. Regulatory Guidance for Federal Motor Carrier Safety Regulations (FMCSRs)- Part 40. Subpart F § 40.85. Disponível em: http://www.fmcsa.dot.gov/rules-regulations/administration/fmcsr/40.85.htm
World Health Organization [WHO]. World report on road traffic injury prevention. Geneva: WHO; 2004.
Yonamine, M. - A saliva como espécime biológico para monitorar o uso de álcool, anfetamina, metanfetamina, cocaína e maconha por motoristas profissionais. Tese de Doutorado defendida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. 2004, p. 192.

Fonte: Revista de Psiquiatria Clínica

terça-feira, 19 de julho de 2011

Autuações por excesso de velocidade cresceram 75%

Abaixo, o Clicrbs reproduz os números da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que dão conta da redução das mortes nas estradas, em consequente aumento de autuações no nosso estado.

Esta é uma conta fácil de fazer: Aumento de fiscalização, é igual a aumento de infrações e, redução de mortes! 

Lembro que em sala de aula, muitos alunos chegavam com uma idéia pré concebida, que o aumento de fiscalização seria uma forma de arrecadar mais.
Tinha que concordar com eles: arrecadamos mais vidas, mais sobreviventes deste absurdo morticínio, que teimamos em chamar de trânsito, e explico pelo conceito:
Trânsito é a utilização das vias por veículos motorizados, veículos não motorizados,pedestres e animais, para fins de circulação, parada ou estacionamento.
Como percebemos, nada consta sobre, ser a segunda principal causa de morte do país.
Vamos rever nossos conceitos. Quem comete uma infração tem que ser punido sim! Se cometeu um crime, vai responder como qualquer réu, de outro delito diferente.
A diferença entre alguém que atropela por imprudência e, quem atira em outra pessoa, é apenas a arma.

Até a próxima!


Autuações por excesso de velocidade cresceram 75% nas rodovias do RS em relação a 2010

Segundo a PRF, mortes no trânsito em rodovias federais diminuíram 5,78% em comparação ao ano passado

Somente no primeiro semestre deste ano, mais de 96 mil motoristas foram autuados por excesso de velocidade nas estradas federais gaúchas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), são 75,1% de condutores a mais em relação ao mesmo período do ano passado.

As multas referentes à embriaguez ao volante também aumentaram de forma significativa — um crescimento de 23,7% em comparação a 2010.

De acordo com o inspetor Alfonso Willembring Júnior, chefe de policiamento e fiscalização da PRF no Estado, o crescimento no número de multas é fruto de um reforço nas operações especiais em todo o Rio Grande do Sul.

— O modelo de criar operações especiais focados em algumas cidades foi aprovado e será mantido para o segundo semestre — afirmou Willembring, acrescentando que, para o início do próximo ano, é prevista a chegada de 100 novos policiais rodoviários para o Estado.

Conforme dados da PRF, houve um aumento de 43,3% no total de autuações gerais de trânsito e de 5% na fiscalização de veículos. O número de prisões por crimes de trânsito cresceu 12,51%.

Apesar de o número de acidentes ter aumentado 5,97% em relação a 2010, as mortes no trânsito em rodovias federais diminuíram 5,78% em relação a 2010. Até hoje, foram 228 óbitos registrados no Estado. 

Fonte: Clicrbs

sábado, 16 de julho de 2011

Mais de 1.000 acessos no puxandoosfreios

Gostaria de agradecer a todos que compartilharam, acreditaram, e que fazem parte deste trabalho. Pessoas como meu filho Gabriel, Virgínia, Kika, Analu, Paulo Becker, Crisnei, Patricia, Bicca, que estão como seguidores. Ainda a Instrutora Fabiana, que utiliza o site nas aulas de direção defensiva e, a professora Irene Rios mestre em educação para o trânsito no estado de Santa Catarina.
Agradecer também ao Crisnei, a Juliana, a Simone, o Elton e ao Clóvis, que contribuíram diretamente, sugerindo matérias para serem postadas.
Quando começamos este trabalho, a pouco mais de seis meses, confesso que não tinha uma expectativa tão  alta, mas agora aumenta a responsabilidade, tanto com os assuntos abordados, bem como com os amigos leitoras.
Faça parte você também do http://puxandoosfreios.blogspot.com/. Mande sugestões, critique, indique para um amigo, enfim, participe!
Muito obrigado.


Até a próxima!

quinta-feira, 14 de julho de 2011



Bastardo Social




Apesar de ser favorável ao sistema implantado em Barcelona, como o mais apropriado, barato, limpo, etc..., conforme postagem publicada no dia 25 de junho, assusta ver tamanho ato de vandalismo.
Fica minha curiosidade de conhecer os genitores deste imbecil. O que vocês criaram!


Até a próxima!









Contêineres de lixo são alvos de vandalismo menos de 48h após início da implantação na Capital

Na Rua João Manoel, por pouco as chamas não atingiram uma sapataria

Atualizada às 11h37min
Pelo menos dois dos 1,1 mil contêineres que começaram a ser instalados na manhã desta terça-feira em Porto Alegre para implantação do novo sistema de coleta mecanizada de lixo foram danificados nesta madrugada, no centro histórico da cidade. Um coletor foi incendiado na Rua Duque de Caxias e outro na esquina da Rua João Manoel com a Sete de Setembro.

Neste local, por pouco as chamas não alcançaram um quiosque de uma sapataria que fica na calçada do prédio da defensoria pública. A proprietária, Maria Virgínia da Luz, 56 anos, levou um susto ao chegar para trabalhar nesta manhã.

— Eu fiquei apavorada e preocupada porque esse é meu ganha-pão. Se tivesse queimado a minha banca o prejuízo seria enorme porque eu trabalho com sapato de cliente, tenho grande quantidade de botas guardada aqui — disse.

 Registrou atos de vandalismo contra os
contêineres de lixo na Capital? Envie fotos.


Um segurança da defensoria pública que viu o fogo por volta das 2h acionou o Corpo de Bombeiros. O corretor de seguros Arleno Piccoli, 57 anos, que trabalha em local próximo, criticou o vandalismo.

— Eu passo todos os dias por aqui e fiquei numa indignação tremenda! O contêiner está bem destruído. Pena que não tem uma câmera aqui, porque essa pessoa tinha que sofrer algumas sanções — defendeu.

O fogo ateado pelos vândalos no lixo provocou um forte cheiro nos arredores. Ainda não se sabe se os contêineres poderão ser recuperados. Segundo o prefeito José Fortunati, os contêineres são importados da Itália e cada um custa R$ 4 mil. A população pode denunciar atos de vandalismo pelo telefone 156.

Fonte: ClicRBS


domingo, 10 de julho de 2011

Todos responsáveis!

Excelente idéia. Mas antes devemos refletir sobre algo em que discutíamos em aula: quem nunca pediu uma pizza e, que ela chegasse quente? Ou pediu um remédio urgente? ou até mesmo documentos para uma reunião? 
Se algum dia isto aconteceu, somos responsáveis também, por esta carnificina entre os motociclistas.
Não sejamos hipócritas então! Vamos rever nossas atitudes também.

Até a próxima!






Detran/RS faz alerta para nova lei que regula serviço de telentrega
Práticas que estimulem motociclistas profissionais a dirigir acima da velocidade permitida, como prêmios e metas para número de entregas ou entregas mais rápidas não serão mais permitidas. A Lei Federal 12.436/11, que entrou em vigor ontem proíbe tais práticas e também veda às empresas e aos contratantes prometer dispensa de pagamento ao consumidor, no caso de entrega fora do prazo ofertado; e estabelecer competição entre os profissionais, com o objetivo de elevar o número de entregas
O Detran/RS alerta aos empregadores e contratantes desse serviço que a infração a essa lei implica em multa de até R$ 3 mil. A penalidade será sempre aplicada no grau máximo se ficar apurado o emprego de artifício ou simulação para fraudar a lei e nos casos de reincidência.
 “Esperamos que empregadores e tomadores de serviços atentem para as novas normas, sem que isso signifique redução dos rendimentos desses profissionais”, assinala Alessandro Barcellos, Diretor Presidente do Detran/RS. Para ele, a iniciativa do Governo Federal é importantíssima, considerando-se o crescente número de acidentes envolvendo motocicletas no País.
Levantamento do DPVAT mostra que nos últimos 10 anos (2000 a 2010) as mortes no trânsito envolvendo motociclistas aumentaram 64%, enquanto os casos de invalidez permanente aumentaram 274%. Esses percentuais representam 120,6 mil mortos e 303,6 mil inválidos permanentes no período.
Um agravante dessa situação é que, ainda segundo o relatório do DPVAT, grande parte dos casos de morte (71%) e invalidez permanente (66%) decorrentes de acidentes com motos ocorre na faixa entre 15 e 34 anos, atingindo a juventude e população economicamente ativa.

Publicada em 08/07/2011, às 17h34min
Anexos

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Você topa ser gentil?

O trânsito é quase uma praça de guerra, mas cresce o número de pessoas e instituições que levantam a bandeira da tolerância e da paciência na direção

Por Daniele Hostalácio e Simone Dutra
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Fotos: Cláudio Cunha, Melissa Boëchat e Emmanuel PinheiroVocê topa ser gentil?clique para ampliar
 
Não faz muito tempo que os jornais trouxeram mais uma notícia de morte causada por uma briga de trânsito: um motoqueiro e o motorista de um carro se desentenderam depois de uma simples batida,numa das avenidas mais movimentadas da cidade de São Paulo. O motoqueiro acabou sendo baleado e morreu, vítima de um enredo que tem vários pontos de semelhança com muitas outras tragédias que, de tempos em tempos, ganham espaço no noticiário: motoristas discutem por causa de uma colisão ou de uma fechada, segue-se uma perseguição. Saldo: morte.

Não foi a primeira e provavelmente não será a última. Diante de episódios como esses, mais uma vez nos deparamos com algumas reflexões: por que o trânsito se tornou um espaço para destilarmos tanta ira? Por que, mesmo quando saímos de casa para um domingo feliz, poucos quarteirões adiante podemos fazer um inimigo mortal? Por que nos despimos de nossa gentileza e cordialidade antes de pegar no volante de um carro?

Pateta, personagem da Disney, como o Sr. Walker: fora do volante, gentil e amável. No carro, individualista ao extremo
 

Há uma unanimidade quando a questão está em debate: precisamos tornar o trânsito mais humano e, para isso, não seria nada mal levar mais gentileza para as relações que obrigatoriamente tecemos com estranhos enquanto guiamos nosso carro por vias públicas. Ceder espaço para que outro carro entre na nossa frente, esperar pacientemente que um pedestre mais lento atravesse a rua, não sair por aí disputando com outros carros quem arranca primeiro ao abrir o sinal, ter tolerância com barbeiragens alheias...

“A falta de gentileza entre pessoas, em qualquer situação, é um fator que contribui para o desgaste das relações interpessoais. Em contextos que já significam uma maior tensão emocional, como no trânsito, a falta de gentileza é mais facilmente interpretada como grosseria e pode desencadear respostas agressivas”, observa João Gabriel Marques Fonseca, médico e músico, professor da Faculdade de Medicina e da Escola de Música da UFMG, que tem se dedicado a programas de promoção da saúde e controle do estresse.

 

Inspiradas nessa ideia do poder da gentileza, várias campanhas têm surgido espontaneamente na sociedade, pedindo mais cordialidade no trânsito. Uma delas, idealizada pela seguradora de carros Porto Seguro, intitula-se “Trânsito Mais Gentil”. “A ideia surgiu da percepção de nossas próprias equipes de que a intolerância no trânsito vem aumentado. Pensamos no que poderíamos fazer, que não fosse centrado no respeito às leis, mas sim no comportamento das pessoas”, explica Tanyze Marconato, gerente de marketing da seguradora.

O movimento é apoiado por campanhas publicitárias, ações de rua, ações interativas na internet e promoção de descontos na renovação ou contratação de seguro para quem não possui pontos na carteira de habilitação. Inicialmente lançada em São Paulo e depois estendida para todo o Brasil, a campanha tem colhido saldos muito positivos, com milhares de motoristas adotando o adesivo do movimento e muitas discussões em torno do tema nas redes sociais.

 

Um ano depois de lançada, ela contabiliza mais de 45 mil apoiadores em sua página oficial na internet e mais de 6 mil seguidores no twitter. A comunidade “Trânsito Mais Gentil’, no Orkut, já possui cerca de 4,5 mil membros.“Ficamos surpreendidos com essa resposta da sociedade. O que percebemos é que as pessoas precisavam de uma causa no trânsito. Elas queriam se mobilizar e não sabiam como”, acredita Tanyse.

Outra campanha que tem como mote a cordialidade está sendo capitaneada pela UFMG. “Bocados de Gentileza” pretende propagar um movimento maior dentro dos campi da universidade, levando a ideia de que pequenas atitudes gentis podem melhorar a convivência de todos. O trânsito é exatamente um dos focos da campanha, já que só no campus da Pampulha circulam, diariamente, mais de 35 mil veículos e 55 mil pessoas, números que superam os de muitas cidades brasileiras. Excesso de velocidade, desrespeito à faixa de pedestres e estacionamento em locais proibidos são alguns dos problemas com os quais a comunidade acadêmica convive, agravados pelo fato de que dentro da universidade não existem multas de trânsito. “Por isso, precisamos apelar para a consciência de cada um, e é isso que a campanha tem tentado fazer. Nossa intenção é de que os efeitos da campanha se estendam também para fora do campus”, observa Márcio Baptista, pró-reitor de Administração da UFMG.

 

“A forma como as pessoas se relacionam no trânsito pode ser indicadora de como os membros de uma sociedade se relacionam de modo geral. Se nas relações na vida social impera a competitividade, o individualismo e o imediatismo, não se pode esperar outra coisa do trânsito”, diz Fábio de Cristo, psicólogo e doutorando em psicologia na Universidade de Brasília, onde desenvolve estudos sobre o comportamento no trânsito.

Eduardo Biavati, sociólogo, autor do livro Rota de Colisão, a Cidade, o Trânsito e Você (Berlendis & Vertechia Editores), destaca o fato de que, seja como for, o trânsito está longe de ser expressão da cidadania, não só pela falta de gentileza, mas pelas usuais transgressões às leis de trânsito, bem como pela marca da violência. “Quando avaliamos o modo como transitamos, vemos que não sabemos respeitar o próximo. Acaba imperando a lei do mais forte”, ressalta.

Nessa relação de poder, comumente os pedestres perdem para os carros. Essa desigualdade deu origem a um clássico desenho da Disney, protagonizado pelo Pateta. A animação é uma parábola da nossa relação com os carros e da nossa postura diferenciada quando somos pedestres ou motoristas. Em cena, Pateta é o Sr. Walker, apresentado pelo narrador como um típico homem comum: bom cidadão, gentil, amável e honesto, “incapaz de machucar uma mosca”, e que se considera um bom motorista. O narrador continua a apresentação: “Mas, quando pega no volante, ele se deixa levar pela sensação de ser forte e se transforma num monstro diabólico: o Sr. Wheller: péssimo motorista, individualista, que faz das vias públicas uma pista de corrida”.

César Lopes, gerente de educação da BHTrans: “Ficou difícil ver quem está dentro do carro, se é uma mãe com crianças, se é uma pessoa idosa”
 

Há outros fatores em jogo. A psicóloga Neuza Corassa, especialista em trânsito, pesquisou o comportamento de motoristas durante 10 anos e observou que há uma importante característica que faz do trânsito um espaço único. “As pessoas não se reúnem ali por afinidade, como acontece em outros tipos de agrupamentos. Trata-se de um espaço coletivo marcado pela heterogeneidade, onde se encontra uma diversidade de pessoas, de personalidades, de tipos e de classes sociais”. Esse ambiente peculiar exige doses mais generosas de tolerância, mas o que acontece é o oposto.

Autora do livro Síndrome do Caracol-Seu Carro: Sua Casa Sobre Rodas (Ed. Juruá), Neuza Corassa acrescenta que outro aspecto que faz do trânsito um espaço para possíveis conflitos é o fato de que os carros se tornaram extensões da casa. Presas em congestionamentos e sempre atrasadas, as pessoas acabam fazendo do carro a cozinha, onde lancham, o escritório, onde fazem anotações e reuniões pelos celulares, o quarto, onde se penteiam e se maqueiam. “As pessoas entram no carro como se estivessem em casa, mas se esquecem de que estão deixando um espaço privado e adentrando um espaço coletivo, público. Por isso, o outro é visto como um intruso, e qualquer aproximação maior entre os carros é vista como uma agressão, como uma invasão de privacidade, o que acaba potencializando conflitos”, explica.

Entre os fatores que mais contribuem para a falta de gentileza ao volante estão os constantes congestionamentos. “Em Belo Horizonte, hoje, se contarmos com a frota flutuante, são cerca de 1,5 milhão de carros circulando pelas ruas, e esse número só cresce. Acrescente-se a isso o fato de que é a cidade do país com maior número de sinais de trânsito, um verdadeiro tabuleiro de xadrez, com mais de 100 pontos de gargalos. Anda-se pouco, o fluxo fica lento e isso aumenta a tensão, porque as pessoas ficam muito irritadas”, observa José Aparecido Ribeiro, estudioso de assuntos urbanos e de trânsito.

Márcio Baptista, pró-reitor da UFMG, que lançou a campanha Bocados de Gentileza
 

Segundo dados da BHTrans, na avenida Nossa Senhora do Carmo circulam 85 mil veículos todos os dias. Por hora, no final da tarde, no horário de pico, 3.500 veículos trafegam no sentido bairro/centro. “Presas nos carros, as pessoas passam a não ter paciência nem para esperar o outro levar alguns segundos para arrancar. A buzina acaba sendo o grito do motorista dizendo ‘estou ficando louco aqui dentro’. É uma forma de se fazer ouvir”, avalia Ribeiro.

A lentidão do trânsito estressa e acaba impedindo atitudes gentis, já que o tempo é um elemento crucial quando falamos de locomoção sobre quatro rodas. Segundo uma recente pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 35% dos brasileiros percebem que a rapidez é a principal característica de um bom transporte. “Queremos chegar rápido nos lugares, queremos nos deslocar rápido até um compromisso para, logo em seguida, ir a outro. Mas, e quando não conseguimos a rapidez esperada? Em muitos casos, nós nos frustramos e nos angustiamos, ficamos ansiosos. Isso poderá nos levar ao adoecimento ou a agir agressivamente, ferindo, agredindo e até machucando alguém”, acrescenta Fábio de Cristo.

É por isso que um olhar mais atento sobre a nossa sociedade conclui rapidamente que vivemos uma relação muito complicada com o tempo, e ela tem impacto na falta de gentileza no trânsito: estamos sempre com a agenda cheia, pulando de um compromisso para outro, com as atividades cronometradas. Por isso um carro lento na nossa frente, um veículo que fecha o cruzamento, uma pessoa que decide manobrar impedindo por alguns minutos o fluxo de trânsito deixam as pessoas muito irritadas. Fica difícil ser gentil, ceder a vez, ser paciente, quando se está atrasado.

Repensar a nossa relação com o tempo e nossa relação com o outro, desconhecido, com quem divido o espaço público, torna-se por isso fundamental, especialmente se considerarmos as mudanças pelas quais as vias públicas passaram nas últimas décadas, em função da elevada quantidade de automóveis e da maior potência dos motores. “São dois aspectos que requerem das pessoas novas habilidades, para além daquelas que as autoescolas têm focado – ligar o carro, colocá-lo em movimento, pará-lo e estacioná-lo. O trânsito atual exige de nós habilidades para conviver com muitas pessoas e, especialmente, de nos autoavaliarmos, a fim de controlarmos nossas emoções e impulsos”, ressalta Fábio de Cristo.

Colocar-se no lugar do outro é também exercício fundamental nesse movimento por mais gentileza no trânsito, na avaliação de César Teixeira Lopes, gerente de Educação da BHTrans. Algo mais difícil quando, lembra ele, as pessoas se apresentam mais individualistas e andam com os vidros dos carros fechados, por medo de assaltos, e, muitas vezes, escurecidos. “Fica difícil ver quem está dentro do carro, se é uma mãe com crianças, se é uma pessoa idosa”, diz. Mas pequenas mudanças na rotina já trariam alguns impactos. “As pessoas precisam sair com mais tempo para seus compromissos e deixar de se incomodar em ceder passagem para um único ônibus, pois ali viajam 50 pessoas”, diz Lopes.

 
 

Basicamente, ser mais gentil no trânsito é lembrar que todos nós dividimos um mesmo espaço, as ruas e avenidas da nossa cidade, e que atos gentis podem tornar as jornadas mais leves. Teixeira lembra que a BHTrans tem feito continuamente diversas campanhas com focos nos pedestres, nas infrações ou no respeito aos direitos de idosos e deficientes físicos, entre outras.

Para mudar o quadro, além de refletir sobre nosso papel no salve-se quem puder em que o trânsito se tornou, o psicólogo Fábio de Cristo lembra que cabe a nós, motoristas de hoje, ajudar a formar a cultura da solidariedade no trânsito de amanhã. “Os pais são os primeiros instrutores de trânsito. O que as escolas e autoescolas devem fazer é dar continuidade a essa tarefa”, indica. O esforço é de lembrar que por trás das poderosas máquinas sobre quatro rodas estão pessoas, com suas histórias, seus problemas, suas limitações, suas urgências. E que a gentileza pode provocar um círculo vicioso, levando um sopro de bem-estar pelas ruas da cidade, enquanto dirigimos rumo aos nossos destinos.





Fonte: Revista Encontro