quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

"Morremos junto com a nossa filha", diz mãe de vítima de acidente


Familiares reclamam da impunidade e da falta de fiscalização na saída de festas


Familiares de quem foi vítima da mistura álcool e direção reclamam da impunidade e da falta de fiscalização pelas autoridades de trânsito. Na segunda reportagem da série “Festas, álcool e direção. Cadê a fiscalização?”, ouvimos histórias de quem tenta superar a dor da perda. 
Quatro meses sem Amarilys
A jovem enfermeira Amarlilys de Oliveira e Silva, 25 anos, queria ter três filhos. Recém havia se formado na universidade. Filha única do casal Leoni e Amildo, tinha uma moto, mas sonhava em ter um carro bem grande, além de um sítio com piscina, para reunir toda a família.
“Ela gostava de ficar junto conosco. Quando ela estava nos momentos de folga, estava na casa da sogra. Então ela dizia que nós tínhamos que comprar um negócio grande pra nós tudo morar junto, porque assim a gente não têm que estará correndo pra lá e para cá”, diz a mãe da jovem.
Amarilys havia passado em três concursos públicos e trabalhava em dois empregos. Moradora de Alvorada, era enfermeira num hospital em Gravataí e num posto de saúde em Sapucaia do Sul.
“Uma dia ela chegou do hospital e disse que havia recebido um elogio de médico, porque tinha um senhor esperando não sei quantos minutos e todo mundo tentando ressuscitar ele e não conseguia, não conseguia. Daí ela disse que chegou e tirou a roupa, subiu pra cima dele e daqui a pouco ele começou a respirar”, conta Leoni.
Avenida Getúlio Vargas, Alvorada, 30 de agosto de 2014, 1h15 da madrugada - Amarilys voltava do trabalho para casa.
“Ela vinha na Bis dela, pela via dela, conforme umas fotos que a gente conseguiu recuperar. E nisso não sei como o carro atravessou a pista de fora a fora, pegou ela no meio do carro. A gente acha que ela tentou tirar a moto, mas não deu tempo tamanha a velocidade que ele vinha”, lembra.
Para a mãe de Amarilys, o motorista estava embriagado.
“Não entendemos como a Brigada não tomou uma atitude de não solicitar nenhum exame do bafômetro, nem acompanhar esse cidadão até o hospital se por ventura não tivessem um bafômetro ali para fazer”, reclama Leoni.
Os pais Leoni e Amildo buscam justiça e reclamam do descaso das autoridades.
“Não foi reunida nenhuma testemunha do local, não foi feito nada. Tivemos que nós que pegarmos algumas pessoas”, lamenta.
Os pais de Amarilys buscaram apoio na Fundação Thiago de Moraes Gonzaga para tentar superar a dor.
“Não temos prazer de levantar, de comer, nem de nada. A vida da gente acabou. Ouvimos uma coisa que é verdade. Nós morremos naquela hora que a nossa filha morreu. Como é renascer agora de novo, de todas essas lembranças de todos os nossos sonhos e saber que a pessoa que fez isso com a filha da gente está lá muito faceira”, desabafa a mãe de Amarilys.
Um ano sem Bruna
Bruna Capaverde, de 15 anos, sempre foi boa aluna. Estava no 1º ano do Ensino Médio no Colégio Piratini, em Porto Alegre. “Pé no chão”, com diz o pai, o administrador de empresas Francisco Capaverde. Apesar da pouca idade, já trabalhava na organização de festas para ter o próprio dinheiro. Dezesseis de novembro de 2013, 5h30, esquina das avenidas Pernambuco e Brasil, bairro Navegantes, em Porto Alegre.
“Elas estavam voltando da festinha, com o pai de uma das amiguinhas. O pai dirigindo, a menina filha dele do lado, a Bruna atrás do motorista e outra menina do outro lado. Estavam indo pela Avenida Brasil e nisso vem correndo um carro e bate na lateral da Ecosport que eles estavam andando ao pouco de capotar a Ecosport”, conta Francisco.
Os sonhos de Bruna terminaram ali, na esquina da Pernambuco com a Brasil. A jovem estudiosa e cheia de projetos para o futuro morreu no acidente. A Ecosport em que a menina estava foi atingida por um Corsa, conduzido por motorista que se negou a fazer o teste do bafômetro, mas que testemunhas e os policiais garantem que estava embriagado.
“Vendo o vídeo de uma empresa de segurança próxima deu pra ver que ele estava acima da velocidade, que ele passou no sinal vermelho, que ele bateu, ele omitiu socorro, ele foi contramão tentando fugir”, conta o pai de Bruna.
Diego Alberto Joaquim da Silva ficou preso poucas horas e responde processo em liberdade. Audiência de instrução está marcada para março de 2015.
Dezenove anos sem Thiago
Diza Gonzaga se tornou símbolo de empenho em atividades de prevenção a acidentes de trânsito, após criar a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga em 1996 em razão da morte do filho que dá nome à ONG. Ela recorda quando perdeu Thiago na madrugada de 20 de maio de 1995. Ele voltava pra casa de carona após uma festa em Porto Alegre. Até hoje não ficou comprovado, mas pelos relatos o motorista estava embriagado.
“Eu não me conformava que meu filho cheio de vida, 1m80, lindo, não tenha voltado pra casa. Eu levei ele na festa. Infelizmente ele pegou uma carona sem volta”, lembra Diza.
Diza não cansa de reforçar o que todos já sabem, mas que alguns fazem questão de não entender.
“Bebida e direção é uma dupla de morte. Não é implicância da Diza ou da Fundação Thiago Gonzaga. 78% dos acidentes com lesões graves têm alcoolemia positiva”, enfatiza.
Indignação com autoridades
Para Francisco Capaverde, pai de Bruna, se a fiscalização fosse mais efetiva, acidentes como o que matou sua filha poderiam ser evitados. 
“Se houvesse uma fiscalização efetiva com certeza isso ia diminuir incrivelmente essa quantidade de mortes”, ressalta Francisco.
Os pais de Amarilys têm a mesma posição.
“A gente está sofrendo pela filha da gente, mas a gente está vendo horrores de coisas”, frisa Leoni.
Diza Gonzaga afirma que os flagrantes feitos pela reportagem da Rádio Gaúcha de motoristas dirigindo bêbados na saída de festas reforçam o que a Fundação Thiago Gonzaga vêm registrando em suas ações educativas.
“Nós não vemos fiscalização. Tá na hora das autoridades fazerem a sua parte também. Tem que fiscalizar. Se botar três, quatro barreiras na saída de uma Freeway, na saída das praias nós vamos pegar quem bebeu e dirigiu”, desabafa Diza.
Na próxima reportagem, as explicações das autoridades para a deficiência na fiscalização de trânsito na saída das festas.
Fonte: Rádio Gaúcha

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